Acho que quem lê o Lipstick Corner, não tem idéia do background que se esconde por trás desta pessoa que hoje escreve aqui. Pensei e repensei muito antes de publicar este texto. Pela internet à fora vejo muitas meninas que se encontram na mesma situação que eu me encontrei a pouco mais de um ano atrás: “tenho o cabelo ondulado, cacheado, crespo… preciso fazer ele ficar liso”! E então você olha para as prateleiras e para as marcas: de escova progressiva à alisamentos de farmácia, as opções são enormes. Por outro lado, se você quer ter e manter um cabelo cacheado, os tratamentos são pouquíssimos e os profissionais que sabem lidar com este tipo de cabelo, raros. Então o que você faz? Escova, relaxamento, alisamento, tudo para se “adequar aos moldes”, conquistar seu sonho do cabelo liso.
Antes a história fosse assim, tão simples. Eu me lembro muito bem que durante a quarta e a quinta séries do ensino fundamental, meu cabelo tinha corte estilo Chanel e com franja. Só que o cabelo é cacheado, é em grande quantidade, volumoso, o fio é grosso e além de tudo era penteado à seco. O resultado é que hoje eu olho para as fotos e vejo um Poodle. No fim das contas, meu apelido “carinhoso” durante está época era Medusa, a personagem da mitologia grega com “cabelos de serpente”. Claro que isto para uma criança de 11/12 anos não é o País das Maravilhas e foi aí que começou a exclusão, eu mesma comecei a me isolar, aquela história que vocês devem conhecer. Foi com essa idade que fui apresentada à escova e até os 22 anos era lavar e perder de 1h30 a 2h escovando as madeixas. Fora que deixei de ir com os amigos na piscina, na praia ou encarar qualquer situação que envolvesse molhar os cabelos. Por anos fiz de tudo para esconder meus cachos.
Há quem olhe para esta situação e dê risada, ache ridículo. Mas creio que só quem passa por isso sabe as marcas que ficam e como é difícil superá-las. Eu cheguei ao ponto de adquirir uma lesão por esforço repetitivo (LER) de tanto fazer escova (e claro, de ficar digitando também) e foi preciso chegar à este ponto, quase aos custos da minha saúde, para que eu começasse a tentar mudar. No começo não foi nada fácil. Como cuidar de um cabelo que você nem ao menos viu como era? A primeira vez que vi meus cabelos como eles são, foi nas mãos da Cláudia Ardessore do L’Officiel III, quando fui fazer minha transformação da Seda. Como ela também tem os cabelos cacheados, me senti segura e confiei na opinião dela que soube fazer o corte como ninguém e ainda me deu dicas de como manter os cachos. Foi aí que olhei no espelho e vi outra pessoa. O meu namorado que até então nunca havia me visto assim, também foi só elogios.
Depois deste primeiro corte, tomei coragem para usar um voucher que ganhei no evento em que compareci da Koleston e fui até o Salão Galeria, entregar minhas madeixas ao hairstylist Júlio Crepaldi. Apenas disse à ele do que eu não gostava e saí de lá com os cabelos mais curtos ainda e com um leve ombré hair para dar um pouco de luminosidade. Foi então que realmente acreditei que o cabelo cacheado tem muito mais graça e charme do que eu jamais poderia imaginar. Muito mais do que o liso escorrido que eu tanto almejei durante anos.
Desde então o secador e a prancha passam longe do meu cabelo e sim, vez ou outra eu ainda enfrento o preconceito de quem acha que o bonito é ter o cabelo liso escorrido, ter 1,90m e pesar 50kg. Mas já não importa mais. O que importa é assumir quem eu sou e estar feliz com isto. Sei que muitas de vocês irão ler este texto e continuar alisando os fios, mas eu não estou aqui para julgar ninguém, apenas para compartilhar algo que sei que muitas passaram, estão passando e continuarão enfrentando. Mas se eu pudesse dar uma sugestão (não um conselho), diria para tentarem aos poucos, ir se descobrindo, seja isso do jeito que for. Hoje sou muito mais feliz com meus cachos (e incrivelmente mais feliz comigo mesma) e, assim como tem quem ache feio, muitas pessoas elogiam e perguntam se eu fiz permanente ou babyliss, mas a verdade é que ele sempre foi assim.